quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Arquitetando um belo par de pernas

Você se sente seduzido e nem percebeu. Sente que quer repetir a dose do ultimo encontro. Não de uma forma sistemática de um compromisso, mas a fim de aproveitar aquela companhia. Tentando racionalizar o que está acontecendo, é preciso saber de onde veio o desejo. Os sintomas são recorrentes de uma forma particular. O conforto que só a presença traz, não com um abraço sufocante, mas poder calar a boca cinco minutos e não se sentir incomodado com o silêncio. Dividir uma pequena cama e não sentir necessidade de mais espaço, afinal dois corpos dialogam melhor com pouca distância. Nem me atrevo a citar o clichê dos lindos olhos, pois já usei o do belo sorriso. Os diálogos te revelam o que seu palpite acertou, e de repente um simples comentário assume um valor essencial na sua rotina.

Você vive o desejo, se embriaga dele e passa mal. A grande surpresa é que a ressaca não veio, e sem ela uma nova noitada pela frente. Comemorando a existência você só tem a pretensão de esquecer do tempo, este carrasco dos encontros curtos. Mas você vive, eu vivo. Não pela ilusão de estar completo, mas pelo fato dessa banal existência ter agora uma nova pulsão, fazendo de mim um cara melhor.
Fazendo de mim um cara que quer ser melhor.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Fausto e o sentido da vida

Vi uma cena que me impressionou.

Uma cidade era assolada por uma peste, fazendo centenas de mortos.
Nesse contexto a redenção religiosa se tornava uma nova epidemia.
Um líder religioso tomava a praça como palanque e fazia discursos de como aquilo era um castigo divino, nesse momento uma comitiva festiva da plebe passava por ele. Celebrando a existência esse grupo sorria, bebia e cantava.
Tomando como um afronta as suas palavras, o religioso brandiu em direção aos que passavam:

"Tenham respeito pelos mortos!"

Uma plebeia respondeu a ele:

"Ainda vivemos, ainda amamos!
Devemos morrer dançando uns nos braços dos outros!"

Amar e morrer.
É isso.
É só isso.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Essa tal de nostalgia

Ganhei uma tal de Olivetti, uma máquina de escrever que foi usada por "gerações" na minha família. Meu tio aprendeu a datilografar nela, assim como minha mãe. Quando peguei a máquina minha mãe me contou como foi usá-la, as primeiras aulas de datilografia, o concurso no Banco, e por fim a extinção da máquina. O que me chamou a atenção foi o sorriso dela ao contar essa saga de forma tão nostálgica, afinal foi ai que ela decidiu largar as jornadas de 8 horas diárias atrás de uma mesa e ir dar aula.

A nostalgia é o ato de escolher as melhores lembranças do seu passado e fazer delas uma referência, sublimando todo o resto. Acredito na nostalgia, mas espero não ter que usar a frase "...no meu tempo era melhor!". Me perdoem os historiadores, mas a vida em função do passado não pode existir, o vazio cronológico é a pior maldição quando se tem acesso a todas as eras. Vivo o aqui e agora, as vezes me pego olhando para trás comemorando ou só lembrando. Passando ou não pela nostalgia, a saudade tem gosto. Saboreada em um desenho, um super nintendo ou na Olivetti.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vinho, poesia ou virtude

Tenho tido poucas certezas. Sempre tive poucas certezas. Me acostumei com poucas certezas. Mas agora as coisas tendem a passar por um criticismo muito intenso, acabo vislumbrando poucas possibilidades. Não pessimismo! Longe de mim! Viver esta vida esperando o pior deve ser um saco. A questão é que aquela dedicação cega, utópica e até bonita se foi. Talvez tenha a ver com as doses de realismo que tenho tomado ultimamente, por prescrição acadêmica entende...

Nesse cenário me restam os vícios. Os vícios...
Sempre por ali quando você precisa deles. Eles te respondem, não te questionam, não discordam, são só uma forma instantânea de te acalentar quando necessário. No meio de uma indecisão podem se tornar a única certeza, e com o tempo sua única devoção.
Ou perdição. Não tenho visto diferença entre as duas ultimamente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Poesia da autodestruição

Cada movimento do seu corpo precisamente calculado para preencher um tempo, ou um contra tempo. A velocidade com que se movimenta impressiona, e com o tempo não se nota diferença entre corpo e ritmo. Cada compasso construído da forma mais agressiva, fazendo as pausas se tornarem uma mínima e necessária retomada de fôlego, tudo para explodir do modo mais harmônico em um êxtase de canção e prazer.

A fagulha que queima tudo pode estar em um copo, uma boca, um raio ou em uma seringa. Pode ser a mesma inconformidade que eu escolho me alienar e você não. Pode ser o gosto da sarjeta, ou a visão ofuscada por um holofote. Pode ser a única coisa que você sabe fazer, ou aquilo que você sempre estudou. A alegria que você sempre busca, ou a dor que você sempre evita. Desejo existe em todas as partes, a questão é pelo "o quê" você se vende.


Seja maquiado, sujo, rasgado ou sangrando. A saia rodada, ou o jeans velho. A camisa de botão, ou sem camisa. A cicatriz, a tatuagem, o cabelo feito ou o mais despenteado possível.


Tudo isso é uma forma de vida, uma ideologia,
seja a harmonia do caos, a poesia da autodestruição, a sinfonia da luxúria... ou o bom e velho rock'n'roll.